quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Infância (V)


10 comentários:

Fatinha Costa disse...

Um painel da infância que, apesar das privações, ainda conserva sua beleza.

:-)

Jose lins disse...

Pessoal,
Estou sentindo que essas fotos podem render debates sociais bem apaixonados.Vocês estão enxergando miséria e privação onde na realidade não há, exceto em duas fotos. Há sim, em sua maioria, indiozinhos brincalhões, curiosos e sujos por brincarem o ar livre, em contato com o chão não pavimentado, como sempre foi no mundo em que vivem e são felizes. Quando saem de sua aldeia é que o bicho pega, pois quando o fazem atravessam um portal que os transporta para uma realidade totalmente diferente daquela com a qual estão acostumados. Acho que essas fotos são um bom exemplo de que "as imagens falam por si, mas nem sempre falam a verdade". Não lembro quem disse isso, mas parece bem apropriado.

Fatinha Costa disse...

Concordo com a sua colocação, Lins.

Tanto que vi beleza nas imagens, esses sorrisos brincalhões e marotos.

Mas, confesso que, em tamanho pequeno, no painel, me pareceram ser crianças que, apesar das privações pelas quais passam, conseguiam preservar essa espontaneidade infantil que mesmo nas piores condições, se manifesta.

Esse mosaico merece um tamanho maior, assim como o debate proposto pode ser bastante instigante.

Ontem mesmo comentei com o pessoal do Photo Conversa sobre como inúmeras vezes faço autorretratos que são exatamente o oposto do meu estado de espírito no momento dos clicks.

:-))

Jose lins disse...

Tem razão, Fatinha. Meus monitores são grandes, o menor tem 17 polegadas. São maiores que o padrão, então as imagens ficam maiores. Tenho que me lembrar disso nas próximas postagens.
:o)

Fatinha Costa disse...

...e como as pessoas se deixam contagiar pelo que pensam ser uma tradução de como sou ou estou nesses autorretratos "enganadores".

Mas, ao me autorretratar dessa ou daquela maneira, bem diversa do que estou sentindo ou pensando, e conseguir fazer com que enxerguem como desejei, estou, de certa forma, conduzindo a 'olhar' de quem vê e conseguindo atingir o objetivo de me mostrar de modo diverso ao que sou ou estou.

Não é, obviamente, o caso desses seus retratos. Quando vemos as crianças sujas e com roupas rasgadas, embarcamos no estereótipo do "menino de rua", do "menino abandonado à própria sorte", e nos apiedamos do que supomos ser uma realidade de privações.

Não sendo este o caso desses retratos, a pista pode ser a alegria estampada em alguns deles, não mais "apesar das privações", mas apenas porque estavam se divertindo, como outra criança qualquer.

Seria algo por aí?!

Jose lins disse...

Isso aí. Não sei por que razão, não consegui achar em nenhum canto do meu cérebro a palavra "estereótipo". Era tudo o que eu precisava. Quanto aos seus autorretratos, sou fã à beça, pra caramba e às pampas, de todos eles! Eu não consigo fazer isso. Fico extremamente incomodado do outro lado da objetiva. A não ser que depois eu me esconda por trás de alguma máscara, como aquela colagem sinistra que postei há alguns dias.

Fatinha Costa disse...

Ao mesmo tempo, revendo sob essas novas 'luzes' as fotos dos mosaicos, percebo que há umas três em que as crianças parecem realmente em uma situação ruim.

Nas demais, há sempre um gesto de mão, um olhar, algo que remete à infância como ela deve ou deveria sempre ser.

Entretanto, nos retratos, em geral, há sempre que se olhar com mais cuidado.

Crianças que têm tudo ou que não têm nada, podem ser pegas em momentos semelhantes, com um sorriso na boca e aquele brilho no olho; assim como, ricas ou pobres, por vezes as flagramos em momentos de legítima tristeza ou com expressões tão duras, tão 'adultas'...

No meu post mesmo, há um menino de perfil, de classe média alta, que, no meio de uma baita festa, estava infeliz num canto do grande, colorido e iluminado salão...

E aí? Dá pra gente pensar em como o 'recorte' que enquadramos ao fotografar faz a maior diferença?!

Esse papo é muito sério. E deve ser um aspecto a ser considerado toda vez que lidamos com nossas câmeras, seja fazendo algo amador, seja trabalhando em algum ensaio ou matéria...

Guillermo Aldaya disse...

No post anterior (Infância IV), eu comentava:
...Esses 'modelos' que o Lins tem, quase por direito próprio, são um privilégio. E ele soube capturar o ímpar de cada personalidade e, ao mesmo tempo, deixá-las intactas.
Quer dizer, em termos de documento, esses são os maiores méritos destes retratos, ao meu ver.
Valores de outra índole são inseparáveis de fatores como tempo e espaço. É quase humana a tendência a dar um tamanho à alegria, à pobreza, à felicidade, à infelicidade, etc., dos outros. Desde nossas possições, claro, e fechados como normalmente estamos a tudo o que não responda aos nossos códigos. Não é difícil imaginar o quanto nos enganamos nessas valorações... se nem entre nós mesmos conseguimos chegar a acordo sobre como conduzir nossas vidas.

Jose lins disse...

Você descreveu muito bem a realidade. O momento decisivo nem sempre é verdadeiro. Se eu vir uma foto em que a pessoa está deitada e de olhos fechados, vou aformar que está dormindo. Mas ela pode estar no meio de um piscar de olhos. Vou até procurar uma foto que fiz em um café de Paris, que faz o espectador jurar que a personagem está olhando para mim. Porém, ela estava conversando com uma amiga. Percebi que seus olhos passeavam de um lado para o outro, e eu estava no meio do caminho. Eu a via através de uma fresta, pois ela estava sob a claridade do lado de fora. Eu me encontrava do lado de dentro, meio que no escuro. Tenho certeza de que não me via, ou não me percebia. Mas não é o que diz a imagem. Pra você ter uma ideia, foram 18 (dezoito cliques até eu capturar seu olhar).

Jose lins disse...

Isso mesmo Guillermo. E nós valoramos estas coisas meio que trazendo para nossa realidade. Se fizermos o caminho inverso, obteremos o mesmo resultado. Se eu me mudar para o meio da selva, para viver em uma tribo afastada, levado televisão, geladeira, microondas dvd etc, terei que pedir comidae morada aos ricos índios que têm sua oca, sua caça, seus ungüentos, enqunto eu, que não sei caçar, construir uma oca e nem tenho onde ligar meus aparelhos "vou pedir comida no sinal".