Uma
Mulher Moderna - Fotografias de Gertrudes Altschul
Folhas secas, flores de
plástico e de papel, confeccionadas no pequeno atelier que Gertrudes mantinha
com o marido - ofício trazido junto com a bagagem da Alemanha numa forma de
sobrevivência, foram de fato referências inspiradoras, que ressignificadas
através da fotografia, resultam em um trabalho de profundo rigor estético, que
incluiu experiências como sobreposições de negativos, construção de pequenos
cenários (table top) ou simplesmente tomas diretas que não por isso deixam
de buscar a perda do referente. As folhas solarizadas, as linhas, os
contornos dos objetos, indicam uma carga de respeito - carregada de expressão -
à forma, e ao que está subentendido nela; o que é real? O que é palpável? Sua
obra oferece liberdade total à criação. Assim como para a maioria dos
fotógrafos participantes do movimento conhecido como a Escola Paulista, a
fotografia não era a principal atividade de Gertrudes, mas foi através dela que
a artista extrapolou os conceitos do ofício, aplicou sua experiência do
artesanal e se utilizou de um dos instrumentos mais modernos da época, a câmera
fotográfica,como recurso de compreensão e ferramenta de transformação do que se
pensava ser um caminho para a arte. Os urubus solarizados aqui se transformam
em gaivotas, na intenção de poetizar a crueldade da sobrevivência; os galhos
que despontam espremidos do lado direito da imagem mostram uma sensualidade
que parece à flor da pele; a teia de aranha descortina a trama do inseto e
se transforma em véu.Rever conceitos se tornou um hábito na vida desta artista,
que saiu do seu país de origem fugindo da guerra e ficou um ano sem ver o filho
pequeno e que não por acaso guarda até hoje o acervo de Gertrudes.Não era a
única, não foi a primeira. Uma mulher num clube estritamente masculino, e aqui
me refiro ao da fotografia como um todo, é no mínimo inusitado e abre caminho
para pesquisas mais aprofundadas de quem eram essas mulheres.
Isabel Amado (Curadora)
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